O termo excludente, pretensioso e, por vezes,
preconceituoso, “para poucos”, parece se encaixar bem a Céu. Do primeiro disco,
“CéU”, com o certificado “emepebístico de coolzice” ao dub/reggae de “Vagarosa”
até seu trabalho mais recente, “Caravana Sereia Bloom”, que vai do rock
Roberto/Caetano “Falta De Ar” à sensualidade hipnótica de “Chegar Em Mim”, Céu
parece sedimentar seu público com a sofisticação do seu som e, em alguns
momentos, resvala no popular com trilhas de novela etc. E é aí que seu público
pode abranger desde fãs de Tulipa Ruiz e Nina Becker até admiradores de Vanessa
Da Mata e, por que não, Maria Gadú.
O show segue essa mesma linha. Na Virada
Cultural Paulista, em São José do Rio Preto, a apresentação começou pontualmente
a meia noite, com “Teju Na Estrada” antecedendo a entrada da cantora e, enfim,
“Falta De Ar”, seguida de “Asfalto E Sal”.
Logo nas primeiras músicas, Céu diz que está
tudo muito bonito, mas lamenta pela barreira que deixa o público distante do
palco. No entanto, em “Contravento”, música providencialmente mais intensa, e
depois de alguma negociação, a grade é retirada pela produção e o público fica
literalmente na beira do palco. “agora o show começou” disse Céu, nitidamente
empolgada com a nova situação.
O som, muito bem equalizado, é encorpado,
mesmo com uma banda enxuta: baixo, guitarra, bateria e scratches. No palco a
cantora é contida, por vezes, blasé, mas a alegria em ver sua música cantada
por algumas pessoas, que seja, teima em aparecer, dando uma espontaneidade
tímida, desajeitada e, por isso mesmo, comovente à apresentação.
O show aconteceu no palco montado na represa
de São José Do Rio Preto. O visual era muito bonito, com um chafariz cercado de
luzes coloridas ao lado do palco. Mas apesar da beleza da noite, a atmosfera
hippie estradeira da apresentação cairia perfeitamente em um fim de tarde, com
o “aditivo” correto.
O repertório do show é composto
principalmente pelas músicas do disco mais recente da cantora: “Caravana Sereia
Bloom”. Do aclamado segundo disco, “Vagarosa”, foram incluídas apenas duas
músicas: “Cangote” - com uma roupagem diferente, saindo do reggae e se
aproximando do baião - e “Grains De
Beaute”, com um final empolgante.
“Malemolência” e “Rainha”, do primeiro disco,
fizeram bonito no setlist, a primeira com uma citação de “Mora Na Filosofia”,
de Caetano Veloso, no final. Duas covers frequentemente presentes no repertório
dela também chamaram atenção, a latina “Piel Canela” de Eydie Gormey y Trio Los
Panchos e, principalmente, “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo
Carlos, que arrancou muitos aplausos do público.
A beleza displicente de Céu chega ao nível
máximo de sensualidade em “Chegar Em Mim”, a última do disco mais recente e uma
das melhores músicas de 2012. Ao vivo, se o ritmo levemente acelerado minimiza
parte do encanto, o refrão surge ainda mais pungente. No bis, ainda teve “10
Contados”, do primeiro disco e trilha de novela global.
No decorrer do show muitas pessoas abandonaram
o local. Possivelmente por achar a apresentação arrastada ou não conhecer as
músicas. Talvez o público heterogêneo da Virada Cultural Paulista ainda não
esteja preparado para a música da Céu. Mas com uma performance coerente,
corajosa e sem concessões, a cantora mirou exatamente a beira do palco, aqueles
que se entregaram às nuances do show. Entre os demais, novos fãs devem ter
surgido, mas os que já conheciam e gostavam saíram da represa mais do que
satisfeitos... apaixonados!
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