sábado, 30 de outubro de 2010

Araçatuba e a "Família Simonal"


Quinta-feira (28), na parte da tarde, eu no meu serviço...


Eu: você viu? vai ter aquele esquema do Sesc na praça hoje!

Amiga: que esquema?

Eu: show de Max de Castro e Simoninha, homenageando o, falecido, pai deles Wilson Simonal!

Amiga: aff, nunca ouvi falar de nenhum dos três...


E assim Araçatuba esperava ansiosamente o show Baile do Simonal. Fiquei na dúvida se ia ou não. Conheço pouco da carreira do cara, apenas as mais famosas, mesmo que estas sejam mais de 10, talvez. E os trabalhos dos seus dois filhos nunca me despertaram maiores interesses, mas vendo alguns vídeos no You Tube acabei sendo convencido, além do que, era na praça, gratuito.

A ironia já começou no local do show, Praça Getúlio Vargas, ao lado de uma delegacia. Só faltava a praça se chamar Emílio Garrastazu Médici. O palco foi montado na quadra de basquete, a frente de um halfpipe e próximo a alguns aparelhos de ginástica destinados a terceira idade. Agora imagine o público específico, ou tribo (se bem que a moda agora é chamar de Família), de cada um desses lugares da praça, reunido para assistir o show! e ainda somado a neo-hippies, curiosos e bêbados de plantão. Ah, também tinha alguns fãs do Simonal.

Toda essa pluralidade do público araçatubense em atrações culturais, especialmente gratuitas, entretanto, não assusta mais. Já estamos acostumados. Eu mesmo contribui com o samba do crioulo doido (sem trocadilho), pois trajava uma camiseta do Them Crooked Vultures, absolutamente em sintonia com o espetáculo em questão.

Algumas cadeiras foram colocadas a frente do palco, possivelmente para a “família terceira idade”, que deve ter saído da malhação e ido ao show. O fato curioso da noite é que não avistei emos ou garotos coloridos, devo estar ficando míope, pois eles estão em todos os lugares.

Quando cheguei, o show já havia começado. Posicionei-me ao fundo da quadra, com uma boa visão do palco. Na frente, o público prestava bastante atenção, um pouco mais atrás parecia feira livre, rodinhas de pessoas conversando e tomando cerveja, mal lembrando que acontecia uma apresentação.

As musicas conhecidas, até para quem jurava que não conhecia nenhuma, como “Meu Limão, Meu Limoeiro”, fizeram quase todo mundo cantar. Empolgado com a interação, Max de Castro tentou montar um “acorde perfeito”, como ele mesmo disse, incitando três partes da platéia (esquerda, direita e fundão) a cada uma vocalizar, ao mesmo tempo, uma nota regida por ele. Resultado: com o acorde formado não dava para tocar nem Surfin’ Bird com o Ramones.



Teve também o momento de “lalalalalalalaa”, “só os homens”, “só as mulheres”... só não foi constrangedor, com a pífia resposta do público, porque na volta da música (que não me lembro qual é, afinal todas tinham “lalalalalala”) a banda fez um crescendo sensacional.

Talita, amiga e fã do Simonal, que encontrei por lá, passou boa parte do show me zoando, dizendo que eu parecia uma estátua e não dançava, ao contrário de muitos ali. Mas em dado momento da apresentação, assisti de camarote um espetáculo a parte, um casal dançando exatamente na minha frente. O homem, aparentemente com umas cervejas a mais na cabeça, era quem conduzia a dança, no melhor estilo “dance como se ninguém estivesse olhando”, tamanha era a falta de entendimento entre os dois, mas foi bonito (e, especialmente engraçado) de se ver. Estavam felizes.

Antes de tocar “Aqui é o País do Futebol” Simoninha começou a conversar com o público, primeiro perguntando sobre os grandes times de São Paulo, aquele velho artifício que sempre dá certo. Depois perguntou se Araçatuba tinha time de futebol, aí a confusão se estabeleceu na plateia. Alguns ensaiavam falar do Tigrão (Atlético Araçatuba), outros falavam que a cidade não tinha time, já que a equipe citada está com a situação indefinida, até onde eu sei. Em meio a essa dúvida, a secretária de esportes da cidade berrava insanamente “Basquete Clube e Volei Futuro”. Não preciso dizer que essas equipes não são de futebol. Lembrando que o time de vôlei é nova mania entre os araçatubenses, devido aos bons resultados recentes e às contratações de medalhões do vôlei nacional.

Enquanto o impasse futebolístico corria, ouvi um grito vindo do fundo: “hey, música vai”. O que me lembrou do tempo em que fazia cursinho. Sempre que algum professor se desviava do assunto alguém gritava “hey, aula vai”. E normalmente eram os alunos filhinhos de papai, que mal sabiam o que acontecia em sala.

Outro momento “falando com as paredes” foi quando Max de Castro, ao iniciar uma música, disse empolgado: “Quem quiser levantar da cadeira, tá liberado”. Prontamente uma mulher que filmava o show com um celular, na beira do palco, fez um sinal quase que suplicante para que o pessoal ficasse de pé. Resultado: “vshhh vshhh” (bola de feno passando).

Antes que algum leitor diga: “hey, música vai”, digo que o show foi bastante interessante. Bom repertório e banda afiadíssima. O baixista, que se não me engano, se chama Robinho, é um monstro. Simoninha e Max de Castro também não fazem feio, mesmo não sendo cantores excelentes são bons de palco e têm carisma.

Estava tudo lá: Sá Marina, Nem Vem Que Não Tem, Tributo a Martin Luther King, Vesti Azul, Está Chegando a Hora e por aí vai... resumindo: o show foi ótimo, mas o público araçatubense continua sendo o grande destaque. Se bem que, acho que o Simonal adoraria essa zona toda.

Fotos: Talita Rustichelli