segunda-feira, 17 de março de 2008

Nó na garganta 3

O fim da música como arte - Violins
*
Deu hoje no jornal
As vítimas não têm o que comer
E você vem me falar em música, música, música
A morte tão banal de homens e mulheres na TV
E você quer vir cantar pra mim música, música, música
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Também quero me esconder no refrão e no clichê
Mas não, não tem lugar pra mais não, tenha santa paciência rapaz
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Há música demais
Naõ é preciso que você vá escrever um tanto mais de música, música, música
O mundo vai explodir, na China já não cabe mais chinês
E você quer povoar o ar com música, música, música
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Também quero me esconder no refrão e no clichê
Mas não, não tem lugar pra mais não, tenha santa paciência rapaz
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Procure um pouco mais
Há tanta música pra gente descobrir e ouvir
Dá pra passar o resto da sua vida rústica escutando música
Rústica escutando música
*
Também quero me esconder no refrão e no clichê
Mas não, não tem lugar pra mais não, tenha santa paciência rapaz
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Nós não temos nada pra dizer, não temos nada para acrescentar
Nós não temos nada pra dizer, não temos nada para acrescentar
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(Beto Cupertino)
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Letra da música O fim da música como arte, da banda goiana Violins. É a faixa que fecha o quarto álbum do grupo, "A Redenção dos Corpos".
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Certamente, se essa música tivesse sido lançada em 2007, eu a teria citado em meu trabalho de conclusão de curso (jornalismo). Fiz uma audiorreportagem intitulada "Canções de protesto: as outras vozes do Brasil". Abordei em meu estudo canções que carregam crítica social em suas letras, desde o período de regime ditatorial até os dias atuais. em dado momento do meu relatório citei algumas bandas independentes atuais (o Violins estava entre elas) que usam a crítica social de forma criativa em suas letras, e essa música com certeza seria bastante ilustrativa e cabível.

terça-feira, 11 de março de 2008

Resenha Fictícia 1

Charlie Brown Jr. - Charlie Brown Jr.

Nota: 8,5




Pois é... o improvável aconteceu, Chorão tomou jeito. Quando ninguém (fora os milhares de fãs incondicionais) esperava mais nada da banda, tida por muitos como uma das mais descartáveis da década de 90/00, surge um sopro significativo de inspiração.

Em seu nono álbum de estúdio o Charlie Brown Jr., enfim, lança um trabalho digno de nota. Nessa nova empreitada tudo remete à simplicidade, começando pelo título (homônimo). As letras, se não trazem nada muito profundo, também não pecam pelo excesso, todos aqueles temas repetidos a exaustão como: "Malandro é malandro, mané é mané", "A vida me ensinou...", entre outros, ficaram para trás, com excessão da irônica faixa de abertura, "Atttitttude", em que Chorão diz: "Não quero mais agir/não quero mais lutar/já lutei pelo que é meu/hoje isso me faz gargalhar", em uma clara auto-sabotagem.

Na seqüência vem "Maremoto", música levada por uma linha de baixo pulsante, onde a voz se mantém grave do início ao fim, a bateria marcial só muda com as explosões secas e repentinas da guitarra de Thiago. Outra característica marcante do álbum é o fato de que o amadurecimento (tardio, mas bem vindo) de Chorão, refletiu em seus comparsas, conhecidos por fírulas tão monumentais quanto desnecessárias em seus respectivos instrumentos, aqui tudo parece bem mais econômico e bem posicionado.

A quinta faixa é a música de trabalho, "Você sabe muito bem", uma canção de amor claramente influenciada por Red Hot Chili Peppers fase Californication. Tranquila e melodiosa, talvez até um pouco morna, principalmente como carro-chefe.

Ainda sobra espaço para a ótima "Rubão foi pro céu", continuando a saga do personagem criado pela banda, agora ele vira evangélico e muda de vida: "Rubão continua largado e fudido/mas agora acredita ser um protegido/de sua outra vida ele não gosta nem de lembrar/mas na verdade ele tem medo é de se amarrar". A última faixa (apenas 10 no total), é a ensurdecedora "Half Pipe", a barulheira infernal nos deixa a clara sensação de tontura, o resultado é bem interessante.

A única escorregada é no rap "Noites Claras", o nome da música é uma alusão a "clarões" de balas perdidas. A tentativa da sonoridade crua resulta em algum cover mal feito dos Racionais MCs.

Essa virada na carreira do Charlie Brown Jr. é realmente muito interessante, e mais ainda intrigante, afinal, a que, ou a quem se deve essa mudança? não acredito que seja apenas pelo fato do grupo não trabalhar mais com o produtor Rick Bonadio, embora isso tenha seu peso. O que importa, no entanto, é que o produto final foi satisfatório, agora só falta nosso amigo Chorão parar de arrumar encrenca com jornalistas, em aviões, quebrar narizes alheios, entre outras coisas. Mas se o som ele conseguiu mudar, o temperamento vai ser moleza.


Tracklist

1 - Atttitttude
2 - Maremoto
3 - Ruas quentes
4 - Sem palavras
5 - Você sabe muito bem
6 - Subir
7 - Rubão foi pro céu
8 - Mãos ao alto
9 - Noites claras
10 - Half Pipe

quinta-feira, 6 de março de 2008

A mulher perfeita...

A mulher pefeita deve ser...

doce como a Aimee Mann
sexy como a Scarlett Johansson
versátil como a Cate Blanchett
suave como a Joni Mitchell
insana como a Björk
determinada como a Beatrix Kido
misteriosa como a Penny lane
firme como a Rainha Elizabeth
sensível como a Céu
desencanada como a Lovefoxxx
favorecida fisicamente como a Flávia Alessandra
precoce como a Mallu Magalhães
sombria como a Clarice Linspector
cool como a Kim Gordon
quente como a Marylin Monroe
surpeendente como a Madonna
rica como a J.K. Rowling
corajosa como a Veronica Guerin
instigante como a Tristessa

(...)

No final das contas, por que encontrar todas essas características em uma mulher só se podemos contemplar em várias?

bah... dane-se o perfeito...

sábado, 1 de março de 2008

Nó na garganta 2

"Enquanto isso, vamos deixar como excalibur, o mito, a lenda repousar, pois as sementes não foram em vão, elas aguardam em hibernação pela chuva, pois sei o quão fértil era o solo em que nós as plantamos, pois as plantamos bem fundo nos seus corações e almas, e dali, difícil será retilá-las, e talvez, quando a saudade e o vazio se fizerem insuportáveis e o silêncio for ensurdecedor, talvez a nossa música possa ressurgir e adocicar nossos ouvidos e suavizar nossas almas, até então eu aguardo, aguardemos..."

Trecho da declaração de Sérgio Dias em 1978
decretando o fim dos Mutantes

Nó na garganta 1

"Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura, esfomeados nus e histéricos, arrastando-se pelas ruas negras do poente à procura de um rancor injetável"

Trecho do poema "The Howl" (1955)
do poeta beat Allen Ginsberg