quarta-feira, 27 de abril de 2011

Angles - Strokes



Garanto que ninguém queria estar na pele do Strokes para lançar Angles. Só o fato de uma banda ser boa já traz cobranças em cada lançamento. Agora, junte isso ao fato da sonoridade do grupo em questão ser considerada um dos pilares musicais de uma década, e ainda o último disco ter sido lançado em 2006, há 5 anos, o que para o mundo pop é praticamente uma era.

O Strokes é relativamente grande, mas não é nenhum Guns'n Roses, que tem uma legião de fãs incondicionais capazes de aguardar, com ansiedade, um disco por mais de uma década. Claro que muitos “fiéis” andaram se rebelando contra o Chinese Democracy, mas ainda assim a base de fanáticos é sólida.

Em tempos que a busca incessante por um “novo Nirvana” (aquela mesma que se iniciou logo após a morte de Kurt Cobain) é cada vez mais intensa, um novo trabalho do Strokes, exatamente 10 anos após o debut da banda, aliado ao pressuposto de que início de década é tempo da sonoridade vigente nos próximos anos se desenhar, ganha ares ainda mais míticos.

É importante deixar claro que, nem por tudo isso, a banda foi “vítima de uma armadilha do destino”. Eles contribuíram também para toda essa expectativa, com músicas vazadas feito conta gotas, capa de disco falsa, contagem regressiva e outras artimanhas do marketing digital.

Machu Picchu abre o disco de um jeito interessante. Inicialmente não se parece com Strokes, mas sensíveis influências do disco solo de Julian Casablanca são perceptíveis. O refrão tem guitarras marcantes, remetendo ao som mais habitual do grupo. Na parte final Julian experimenta timbres vocais diferentes, dando a impressão que a banda está decidida a trilhar novos caminhos.

Primeira música do disco a ser lançada oficialmente, Under Cover Of Darkness é, sem dúvida, a melhor do álbum. Ritmo crescente, refrão contagiante e ótimas guitarras. É uma música bastante eficiente, embora não traga grandes novidades ao som da banda, contrariando o que a primeira do disco acenava.

Two Kinds Of Happiness começa contida e explode em um bom refrão que culmina em solo frenético de guitarra. Faz um bom par com a música anterior. Julian segue experimentando nos vocais em alguns momentos.

You’re So Right é esquisitona com seus efeitos e batidas repetitivas, mas o resultado é interessante. Soa como uma música da (tenebrosa) segunda metade de First Impressions Of Earth que deu certo.

Taken For A Fool começa arrastada, mas no refrão lembra bons momentos do Is This It. Mantém um nível razoável no disco até aqui, apesar das poucas novidades.

No início de Games é quase inevitável conferir se você está ouvindo mesmo Strokes ou se sem querer algo do Alphaville ou similares oitentistas foi parar em sua playlist. A música se encaixaria perfeitamente no disco solo de Julian. Ou seja, é monótona e arrastada. Quebra a boa sequência que vinha se desenhando.

Call Me Back é mais uma música arrastada. O ritmo é quase uma bossa nova, daquelas bem quadradas, que faz gringo achar que tem toda a malemolência do mundo. E não sai disso. É a hora do show em que Fabrizio Morett pode ir tomar uma cerveja, a música não tem bateria.

Gratisfaction já começa chutando o tédio das duas faixas anteriores. É possível notar alguns ecos de Little Joy, mas com guitarras mais vigorosas e um refrão em coro. Traz novas esperanças para o disco.

Metabolism tem sinais de cansaço. O refrão com sílabas esticadas aos poucos martela no ouvido feito um tormento. Parece que a música não vai chegar nunca ao fim (são apenas 3 minutos).

Life Is Simple In The Moonlight, no início, parece que vai fechar o disco na linha preguiçosa da faixa anterior, mas um bom refrão salva a música.

Angles nada mais é do que um disco de regular para fraco, ou seja, é o típico Strokes pós “Is This It”, na descendente. Com algumas experimentações, o que é louvável, mas que parecem não ter tido tempo para serem melhor inseridas no contexto do disco (tempo? Sério? pois é, certamente a pressão pelo lançamento aumentou nos últimos meses. A situação já beirava o ridículo). 

A rejeição do album foi grande, mas alguns ainda dizem: “o disco até que é bom, mas nada que justifique tanta espera”. Mas convenhamos, nas atuais circunstâncias, de alguma forma justificaria?

O Rock 'n' Beats publicou ontem que a banda já está voltando ao estúdio para trabalhar em novas ideias. O que resta são os questionamentos sobre os próximos passos – devem arriscar novos experimentos? voltar às origens? - e sobre a longevidade do Strokes: poderão dar um reviravolta na carreira ou o cinismo indie cresceu a galope nos últimos anos não permitindo isso? ou ainda, no caso, é possível a fria constatação de que o momento da banda já passou, não importa o que façam, irão carregar a pecha de ser fruto do longínquo 2001. Só o tempo dirá...