sábado, 28 de abril de 2012

Entrevista: Nada Surf


Entrevista publicada originalmente no Scream & Yell


Formada na cidade de Nova York, em 1992, o Nada Surf sopra as velinhas de seu vigésimo aniversário em 2012 com força total. Em janeiro, a banda lançou seu sétimo álbum de estúdio, “The Stars are Indifferent to Astronomy”, encabeçado pela bonita balada “When I Was Young”, e faz neste final de abril/começo de maio a sua segunda passagem pelo Brasil. “Gostamos tanto da primeira vez que acabamos voltando”, diz o guitarrista e vocalista Matthew Caws em entrevista ao Scream & Yell

Além de Matthew, o Nada Surf conta com o baixista Daniel Lorca e o baterista Ira Elliott. A banda veio ao país pela primeira vez em 2004, quando passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Londrina e Taubaté. Agora em 2012, eles já tocaram no Abril Pro Rock, em Recife, e no Cine Joia, em São Paulo, e ainda se apresentarão em Curitiba (Music Hall, dia 28) e Florianópolis (John Bull, dia 29). Depois de um bate-volta em Buenos Aires, os nova-iorquinos ainda sobem ao palco no Rio de Janeiro (Circo Voador, dia 2 de maio), e em Belém (Se Rasgum, dia 4). No dia 5, encerram a viagem em Fortaleza (Órbita Bar, no dia 5). Infos aqui

Entre os shows, Matthew Caws bateu um papo rápido por telefone com o Scream & Yell sobre a expectativa que tem para essa turnê e o processo de compor e gravar “The Stars Are Indifferent to Astronomy”, cujo título foi inspirado em uma frase do pai do guitarrista, que é professor de Astronomia.

Matthew também comentou os vinte anos da banda e a carga de one hit wonder carregada pela banda desde 1996, quando o clipe de “Popular” teve grande exibição no mundo inteiro. Ele também comentou o que tem escutado recentemente e falou sobre covers – em 2010, a banda gravou “If I Had a Hi Fi”, álbum inteiramente dedicado a releituras de outros artistas. “Não perco muito tempo pensando em quem eu gostaria que gravasse uma canção minha. Mas Johnny Cash teria sido um sonho”, brinca o cantor. Confira!


O Nada Surf veio ao Brasil em 2004, e fez shows em várias cidades. O que você se lembra daquela viagem? E quais são suas expectativas para a turnê de agora?
Foi uma turnê bacana. Muita gente veio aos shows, mais do que a gente esperava até. Em São Paulo, por exemplo, esperávamos duzentas pessoas na plateia, mas foram quase novecentas. Foi algo incrível e chocante para nós. Eu lembro também de muitos aeroportos. Viajamos muito de avião naquela turnê, acho que vamos andar mais de carro dessa vez. Estou ansioso para viajar pelo país. Mas aquela vez foi realmente muito bacana. Acho que é por isso que voltamos.

Muita gente aqui no Brasil só conhece o Nada Surf por causa de “Popular”, cujo clipe passou muito na MTV daqui. O que você pensa sobre isso? 
Isso é algo bem normal para nós. Acho que a maioria das pessoas que já ouviram falar da banda conheceu a gente por causa daquela única canção. É algo tranquilo para nós. Vejo isso como uma oportunidade para tocar mais por aí, e para que mais pessoas conheçam nossa música. Na verdade, eu nem penso muito sobre isso. Minha carreira é muito mais simples que isso. Ela é feita de escrever canções, gravá-las, fazer shows. Não costumo pensar muito sobre a nossa trajetória, o que poderíamos ter feito… Eu poderia, mas eu não faço isso.

Qual foi a principal ideia atrás de “The Stars Are Indifferent to Astronomy”?
Acho que foi a questão da música: tentar observar a energia daquelas canções. Quando escrevo, sempre fico muito empolgado, e sempre tocamos muito empolgados. No estúdio, tocando aquelas canções, me senti mais empolgado ainda. Realmente senti aquele momento, e foi meio que isso. Acho que eu estava tentando fazer algo diferente de antes – tentando olhar mais para fora, para a natureza e o que está acontecendo no mundo, e menos para mim mesmo me olhando no espelho.

O novo disco de vocês marca também o vigésimo aniversário da banda. Vocês mudaram muito desde que eram jovens? E o que você pode dizer sobre esse sentimento nostálgico e adolescente que atravessa as canções de todo o disco.
Não sei dizer como a gente mudou. Acho que nós somos muito sortudos. É ainda difícil acreditar que nós estamos fazendo o que fazemos. Da minha parte, sei que eu tocaria para sempre. É difícil acreditar que nós temos uma carreira baseada em música, mas ela existe. Não sei se existem muita coisa no disco que soa adolescente. Simplesmente acontece que eu só tenho o meu passado para analisar. O futuro ainda não aconteceu. Não é o tipo de sentimento que eu quero voltar no tempo. Eu só espero ter aprendido o que precisava aprender. Nos nossos discos anteriores, acho que havia ainda mais introspecção e exame do que hoje. Mas essas são coisas que nós sempre pensamos. Talvez elas estejam só um pouco mais óbvias hoje, mas mesmo quando eu tinha 21 anos, eu era um bocado nostálgico.

O disco novo tem muitas canções reflexivas. Foi de propósito? E o nome do disco tem alguma relação com isso? 
Acho que eu sou um cara bastante reflexivo, não sei. O título do disco foi inspirado no meu pai, que é professor de Astronomia. Às vezes, ele diz a seus alunos essa frase, querendo mostrar a insignificância do homem no mundo. Um pássaro não sabe que é chamado de pássaro, um cachorro não sabe que é chamado de cachorro, e assim vai. É um pouco disso. Às vezes, nos chocamos com algo que não gostamos, e tentamos imaginar como seria se as coisas fossem do nosso jeito, mas não podemos mudar tudo a nosso gosto. Esse título também tem a ver um pouco com isso, de respeitar a nossa própria natureza.

O que você anda ouvindo recentemente? Poderia indicar alguma banda nova que escutou, ou algum grupo obscuro de antigamente?
Gosto muito de uma banda chamada Wild Nothing. Estive também ouvindo coisas mais antigas, como os Beatles e os Hollies. Que mais? Anne Briggs, uma cantora folk da Inglaterra, do começo dos anos sessenta, e coisas que sempre escuto, como o Teenage Fanclub. Tem também uma banda muito boa chamada The Liars, eles são da primeira onda desse revival do garage rock. Eles fazem coisas incríveis. Gosto muito também do Kurt Vile – ele é fantástico! Mas o meu disco favorito do ano passado foi o da PJ Harvey, “Let England Shake”.

Um dos seus discos recentes, “If I Had A Hi-Fi”, é todo feito de regravações. Que música do Nada Surf você gostaria de ver sendo gravada por outro artista? E quem seria esse artista?
(Pensa um pouco)… há alguma semanas, vi um vídeo de duas crianças do Canadá fazendo uma versão para “When I Was Young”. Cheguei a colocar o link no meu Twitter. É sensacional – e eles são apenas duas crianças, devem ter, sei lá, 13, 14 anos. Gostei muito desse vídeo. Mas não sei… Não penso nesse tipo de coisa frequentemente – nas pessoas regravando as minhas músicas. Não é algo que vai acontecer toda hora. Mas se fosse pra escolher um nome, acho que eu ficaria com Johnny Cash. Seria um sonho (ri).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Lollapalooza Brasil - Minhas Impressões

Cage The Elephant


Com dois discos lançados, sendo que o segundo, “Thank You Happy Birthday” os trouxe ao mundo dos hypes, o Cage The Elephant se apresentou no primeiro dia do Lollapalooza Brasil, em São Paulo. Pontualmente (como os demais shows do primeiro dia) às 15h, a banda mostrou no palco Butantã sua sonoridade profundamente influenciada por Pixies. A banda deve mais a Frank Black do que o McLusky, para citar um exemplo (alguém lembra deles?).

O show começou com “In One Ear”, do primeiro disco. Logo no início já veio a certeza de que a marca do show seria a insanidade do vocalista, Matt Schultz, que, carismático, pulava e se contorcia a todo momento. Por vezes passava da conta. Pulava tanto que, em alguns momentos, se esquecia de cantar no microfone.

Com 12 músicas (5 do primeiro disco e 7 do segundo), o Cage The Elephant mostrou que tem um ótimo frontman e um público entusiasmado que cantou tudo. No final só ficou uma dúvida, o som baixo dos PAs prejudicou a apresentação ou falta corpo para as músicas ao vivo?


Band Of Horses


O Band Of Horses era uma das minhas grandes esperanças de bom show no Lolla. E não me decepcionou, pelo contrário, superarou as expectativas. Óbvio que o esquema deles não era aquilo ali, a riqueza de detalhes e as belas melodias da banda deveriam ser apreciadas em um lugar menor, fechado e com um público só deles. Mas ainda assim foi um belíssimo show.

As canções mais intensas ficaram ainda mais fortes ao vivo. Depois da delicada “For Annabelle”, que abriu o show, “NW. Apt” e “The First Song” prepararam o terreno para belíssimas versões de “The Great Salt Lake”, “Is There A Ghost” e “Cigarettes, Wedding Bands”.

A apresentação seguiu nessa linha. Ben Bridwell cantando muito suas belas melodias emolduradas por uma banda esperta, pesando quando era preciso e caprichando nos detalhes nos momentos mais intimistas. “The Funeral”, fechando o show com o sol quase se pondo foi um dos grandes momentos do dia.


Foo Fighters


O Foo Fighters é hoje uma das maiores bandas de rock do mundo. O “melhor” aqui envolve momento, óbvio. Headliner de grandes festivais, último disco elogiadíssimo e fama de shows incríveis. Você pode não gostar da banda, mas não há como negar o “tamanho” dos caras atualmente.

Muitos shows provocam nos fãs aquele drama de não ouvir o lado-b ou a música obscura que tanto gostam. No caso do Foo Fighters essa lógica é subvertida, é claro que há uma aqui ou outra ali que pode ter a ausência lamentada, mas em geral o que mais importa na banda de Dave Grohl são os hits. E são muitos. TODOS foram tocados.

O Lollapalooza Brasil teve o privilégio de contar com o melhor setlist da turnê sul-americana da banda. Além dos hits, teve “Hey, Johnny Park”, “Enough Space”, “For All The Cows” e, pela primeira vez, “I Love Rock’n Roll” com a Joan Jett (além de “Bad Reputation”, que já vinha sendo tocada nos últimos shows).

Dave Grohl gritou. Gritou muito. Possivelmente com a intenção de provar que o cisto que tem na garganta não é motivo para preocupação, mas na verdade é. Tudo ia bem, até que na parte mais gritada de “Monkey Wrench”, ele berrou tudo que podia, sem acompanhamento. A partir daí sua voz mostrou-se desgastada. Tudo bem, depois disso ele gritou sem maiores problemas em “Best Of You”, “Enough Space” e outras, mas quando cantava normalmente era muito fácil perceber como a voz soava “arranhada”.

A enrolação irritou um pouco. Petardos que por si só já seriam o suficiente para encantar ganhavam a todo momento jams, solos e momentos de interação com o público. É importante que um show de rock tenha isso, mas todo exagero complica. No Rock In Rio já havia sido assim, mas a banda cresceu e a enrolação, infelizmente, também. Com o arsenal de boas músicas que têm, eles não precisavam disso.

O exagero de Dave Grohl incomodou, mas um show que consegue enfileirar logo de cara pérolas como “All My Life”, “Times Like These”, “Rope”, “The Pretender”, “My Hero” e “Learn To Fly” não tem como ser ruim. A sucessão de hits não deixa tempo para respirar.

O desespero cantado em “Best Of You” ganhou contornos reais com Grohl lutando contra a própria voz, o que no final das contas foi emocionante, daqueles clichês que volta e meia aparecem e você finge que não se importa. “Hey, Johnny Park”, talvez o melhor “não hit” do Foo Fighters foi bem encaixada entre “Monkey Wrench” e “This Is a Call”. No final, “Everlong”, para muitos a melhor música da banda, fechou o show.

O Foo Fighters faz show para fãs, aqueles que estão ali prontos para o que vier e não vão criticar em hipótese alguma, o que tenta justificar, de alguma forma, a enrolação. Mas ainda assim é um grande show de rock. Dave Grohl acredita em toda aquela onda de “rock celebração” e passa isso nos discos e principalmente no show. Talvez por isso seja, como já dito, uma das maiores bandas de rock da atualidade.


Sobre o Lollapalooza Brasil

Como todo festival, o Lollapalooza Brasil teve erros e acertos. Entre os acertos é bom destacar a pontualidade rigorosa (o único atraso registrado foi o do Racionais no segundo dia) e a facilidade do acesso ao Jockey. Os problemas, em grande parte poderiam ser resolvidos se tivessem sido colocados menos ingressos a venda no dia do Foo Fighters (o único em que fui, bom lembrar). Segundo relatos, o segundo dia, com 15 mil pessoas a menos, foi bem mais agradável em relação a filas em geral, espaço e locomoção. Aguardamos uma próxima edição, com as arestas devidamente aparadas e bons shows.

As fotos foram retiradas do site oficial do Lollapalooza Brasil.

O ótimo La Cumbuca postou todos esses show inteiros, vai lá ver.


Além do Muro - Roger Waters em São Paulo



Pouco antes do portão abrir, o rapaz que vendia adesivos nos perguntou: “vocês são pai e filho?”, quando respondemos que sim, enquanto eu procurava moedas na carteira ele emendou: “pô, que legal! Trouxe meu filho nas outras duas vezes que ele veio pro Brasil, mas dessa vez não deu”. Ainda nos desejou um bom show enquanto entregava os adesivos e pegava as moedas.

Roger Waters e sua turnê “The Wall” eram o motivo da grande fila que circulava o Morumbi no dia primeiro de abril. “Até que não tem tantos velhos”, disse meu pai, se incluindo nessa categoria e ficando surpreso com a quantidade de jovens presentes.

Cresci ouvindo Pink Floyd. Em casa sempre fui “educado” com altas doses de Beatles, Rolling Stones, Queen, Led Zeppelin, Yes, Genesis... mas quando o assunto era a banda de Waters e Gilmour a história era outra. A empolgação que meu pai mostrava ao me explicar detalhes das músicas e como as descobriu era fascinante.

Quando fiquei sabendo que a turnê do “The Wall” passaria pelo Brasil, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: “preciso levar meu pai”. E tudo correu bem. A data da compra do ingresso, para ajudar, foi próxima ao seu aniversário de 62 anos. Presente garantido.


Cinco longos meses se passaram. Nesse tempo pudemos sonhar com o impossível, relembrando a incrível e inesperada participação especial de David Gilmour em “Confortably Numb”, quando a turnê passou por Londres, em maio. E acompanhar relatos sobre a grandiosidade estrutural dos shows.

Eis que chega a data do show. Em seis pessoas, pegamos sete horas de estrada, de van, até São Paulo. Confesso que, nos dias anteriores, tive certas dúvidas se meu pai realmente havia gostado do presente e se estava feliz com a ida ao show, o que passou a me preocupar mais do que qualquer outra dificuldade.

No entanto, as dúvidas se dissiparam quando entramos no estádio. “Olha só o muro!”, disse, parecendo uma criança quando entra em um parque de diversões. Devidamente acomodados na arquibancada azul, pegamos lugares com ótima visibilidade do palco. O resto da nossa “caravana” estava na pista, onde normalmente fico em shows grandes, mas resolvi comprar arquibancada mesmo, pois apesar de toda sua disposição e saúde, não sei se os 62 anos do meu pai permitiriam encarar a pista. Depois percebi que tomei uma decisão acertada.

Com o portão aberto às 15h, tivemos de esperar até as 19h30 para o início do show (19h45, na verdade. Pequeno atraso). Nesse tempo conversamos (muito), tomamos cerveja (pouco), assistimos princípios de briga quando pessoas insistiam em ficar em pé na grade, bloqueando a visão de quem sentava na primeira fila, e ainda deu tempo do meu pai se divertir com as tradicionais “olas” nas arquibancadas, e se surpreender - discretamente, é verdade – com a falta de preocupação de quem fumava um baseado enquanto aguardava o show.


O espetáculo já começou impondo respeito. Logo na primeira música, “In The Flesh?”, já era possível notar a qualidade absurda do sistema de som. No final da música, uma réplica de um avião, localizada logo acima da arquibancada em que estávamos se chocou contra uma parte do muro, que compunha, a princípio, as laterais do palco. Waters surgiu demonstrando alegria e vitalidade. E logo já foi ressaltado nele um defeito que acaba se transformando em uma qualidade: ele sabe que não é um bom cantor, e que a idade só piora a situação, mas sabe muito bem se utilizar disso no palco, ainda compensando na performance teatral, que poderia até soar forçada, mas faz todo sentido dentro do universo conceitual de “The Wall”.

O show apresenta o disco na íntegra e com as músicas na ordem exata. Sendo assim, a suíte “Another Brick In The Wall” aparece logo no início. Por mais que a música esteja “orkutizada” (para usar um termo atual), em seus primeiros acordes o público já estava rendido. Nesse momento notei discretas lágrimas no meu pai, o que “imitei” instantaneamente sem perceber.

Enquanto a música percorria seus longos minutos, um filme se passava simultaneamente na minha cabeça, lembrei da minha infância, das histórias, da minha antiga banda... não sei dizer se foi o melhor momento do show, mas com certeza foi o MEU melhor momento no show. O coral das crianças de Heliópolis (que infelizmente fizeram playback, mas ainda assim foi bonito) aumentou ainda mais a emoção. Por um instante me vi ali no meio delas, pulando desgovernado e interagindo com o boneco gigante do professor que surgiu no canto do palco. Me senti meio ridículo fazendo tantas relações daquele momento com a minha vida e minha relação com meu pai, mas logo dei de ombros, preferi aproveitar o momento, sem filtros.

Toda a beleza de “Mother” e “Goodbye Blue Sky” antecederam as porradas “What Shall We Do Now” e “Young Lust”, quando as projeções no muro eram tão impressionantes que as vezes esquecíamos de olhar a banda no palco, competentíssima por sinal. 12 músicos. Muitos já acompanham Roger Waters de longa data, incluindo seu filho, Harry Waters, tecladista. Não, não vou tentar fazer mais uma relação entre pai e filho.

Conforme as músicas iam se sucedendo, assistentes de palco colocavam novos tijolos, fechando o muro gradativamente. “Don’t Leave Now”, talvez a música mais depressiva do Pink Floyd, trouxe momentos de tensão com o vocal desesperado e desafinado de Waters. “Goodbye Cruel World” encerra o primeiro ato com o muro totalmente fechado.


Durante o intervalo de 20 minutos (meio broxante, diga-se de passagem) imagens de pessoas mortas em conflitos eram projetadas no muro. Nesse tempo, procuramos cerveja, sem sucesso, os ambulantes haviam sumido. Não comentamos muita coisa sobre a primeira parte, apenas esperávamos o restante.

“Hey You” foi tocada com a banda totalmente encoberta pelo muro. A sensação provocada por não vermos os músicos aliada a tensão característica da música criaram um momento bastante interessante. Se inserindo aos poucos a frente da muralha, Roger Waters seguiu capitaneando o espetáculo visual.

“Confortably Numb” foi uma das mais festejadas. Mesmo sem a presença de David Gilmour. O vocalista, Robbie Wyckoff, dá conta do recado, mesmo tendo a voz mais grave e menos rouca que a de Gilmour. “In The Flesh”, “Run Like Hell” e “Waiting For The Worms” elevaram ainda mais a catarse. As projeções alucinantes reforçavam uma espécie de comício nazista encenado pela banda.

A parte final do espetáculo foi com “The Trial”, e toda a cena final de “The Wall”, o filme. Culminando no desabamento do muro. Por fim, a banda toda a frente dos escombros tocando “Outside The Wall” e finalizando a apresentação.

Com os refletores do estádio já acesos, todos estavam ainda em estado de choque com o que haviam acabado de presenciar. Em um lapso de consciência me questionei novamente se meu pai havia gostado. Então perguntei em tom displicente: “E aí, gostou?”, ele me olhou por um segundo e respondeu ironicamente: “Não, imagina!”. Em seguida me deu um abraço desajeitado e um beijo por cima da cabeça. Pronto, naquele momento minha noite havia se completado. Obrigado, Roger Waters! Até o próximo muro.