sábado, 19 de fevereiro de 2011

Uma pré-resenha precipitada de The King Of Limbs - Radiohead



Nem vou perder tempo falando sobre a forma como o disco foi lançado na internet e tudo o mais, vamos para a música.

Tudo que escrevo aqui nesse post é baseado em poucas audições do disco, ou seja, pode ser que tudo mude amanhã, ou depois, ou daqui um mês, um ano.

O disco começa com Bloom, faixa com base inquieta e vários sons sobrepostos. Logo de cara, a música remete a Kid A e Amnesiac, até há uma semelhança, na forma, com "Packt Like Sardines in a Crushed Tin Box". A diferença, no entanto, é que, ao invés da voz de Thom Yorke funcionar como mais um instrumento, como ele mesmo disse na época do lançamento de Kid A, aqui ela se sobressai límpida, coroando o instrumental intrincado, como no disco solo de Thom, The Eraser.

Depois dos 5'15" da primeira faixa (com exceção de Feral, todas passam dos 4 minutos) vem Morning Mr Magpie com uma guitarra marcante, mas não pense em peso, distorção, a linha continua seguindo em uma direção complexa. É uma das músicas que deve funcionar bem ao vivo. Espere mais dancinhas de frango destroncado.

Little By Little segue o caminho das faixas anteriores, talvez um pouco mais "pra cima", dentro dos moldes Radiohead, claro. E a identificação com The Eraser continua. As guitarras, em certos momentos lembram Go To Sleep também. Feral é instrumental, ou quase. Yorke balbucia sons desconexos. A música é toda torta, lembrando The Gloaming, especialmente a linha de baixo, e ainda é par de sons instrumentais do Amnesiac.

Lotus Flower é o single, começa como mais uma canção quebrada do Radiohead, mas quando a voz entra, a melodia já joga o caráter de single na nossa cara (mais uma vez, nos moldes Radiohead). O refrão em falsete começa apontar o album para outras direções.

Como disse, os caminhos vão entortando, ou no caso, endireitando. Codex é uma bela balada levada por um piano com timbres espaciais. A melodia da primeira estrofe derruba toda a tensão das faixas anteriores. Timbres novos vão aparecendo e preenchendo a música até que somem e fica o piano pontuando a voz de Yorke. Tudo muito bonito.

Give Up the Ghost é levada por um violão (sim, eu escrevi violão) e a voz atormentada de Thom Yorke, imersa em efeitos, repetindo "Don't Hurt Me" por toda a música, é o que pontua a faixa. No final a sobreposição da voz em diversas camadas é arrepiante.

A faixa mais longa, Separator (5'20"), fecha o disco. A música é a mais "sóbria" do album, sem maiores complexidades, tensão ou melancolia profunda. Aos poucos vão surgindo coros e guitarras dedilhadas, tudo bastante perceptível. Alguns diriam que é uma das poucas "normais" do disco. No minuto final o som vai ficando nebuloso, mas pouco depois a música, e o disco, terminam.

As músicas que fecham os discos do Radiohead sempre carregam algo a se analisar. Diferem de todo o resto (Blow Out, A Wolf At The Door), ou soam misteriosas (The Tourist, Motion Picture Soundtrack, Life In A Glasshouse), ou coroam o disco feito um single  (Street Spirit e Videotape). Separator pode se encaixar nas três categorias: é diferente das anteriores, traz um certo mistério, especialmente no final, e poderia perfeitamente ser um single.

O disco parece separado em lado A e lado B, onde as quatro primeiras são quebradas e tortas. Feral, instrumental, enfia o pé na esquisitice e divide o disco. E as quatro últimas trazem belas melodias e trocam a tensão por melancolia. O "lado A" é um pouco mais uniforme, o "B" aponta para mais direções, mas também tem uma unidade. 

The Kings Of Limbs, em geral, mostra o Radiohead mais uma vez enigmático e nos enganando durante a audição. No início, ligamos o disco à fase Kid A/Amnesiac, logo depois vemos que está mais para The Eraser, então surgem ecos do Hail To The Thief, Ok Computer... Até que nosso estoque de associações se esgota e vemos que o Radiohead trouxe, em meio a várias auto-referências, novos caminhos para o próprio som, que talvez demore um pouco para ficarem mais claros.