sábado, 27 de novembro de 2010

Meu Planeta Terra



Nunca tinha ido ao Planeta Terra Festival, e nem a qualquer outro festival desse porte (interior é foda). Dito isso, não tenho qualquer base comparativa, mas o que posso dizer é que gostei muito. Tudo me pareceu funcionar bem, é claro que tive que encarar filas, pequenos tumultos e tudo o mais... mas em uma aglomeração de pessoas dessa o estranho seria se não houvesse nada disso. Ouvi de vários amigos: “fila? É que você não foi no SWU!”. É, acho que optar pelo Terra foi um acerto, claro que não só por isso, mas por questões logísticas de quem mora a 600km da capital. 

O mais legal é que o Planeta Terra parece ter conseguido sua identidade além da programação. A curadoria é ótima, mas o clima do festival parece atrair um público muito além dos fãs das bandas, o que é uma prova da consolidação do projeto. Se tudo correr bem, em 2011, Planeta Terra de novo. Vamos aos shows:



Mombojó


O Mombojó entrou no palco as 16h. Se o sol não castigava tanto, o clima abafado tomava conta. Com os 5 integrantes concentrados no meio do grande palco do Terra, o grupo já mandou, logo de cara “A Missa” e “Faaca”, do primeiro e melhor disco deles, Nada de Novo (2004). Uma característica marcante do show dos recifenses é que as músicas, mesmo as mais calmas, ganham um peso estrondoso ao vivo. Bonito de se ver. Ainda mais aliado ao freak-show-epilético do vocalista Felipe S., que pulou diversas vezes do palco para as caixas em baixo dele, até que um membro da produção o alertou: “cuidado que vai cair”. 

Algumas canções, mais lentas, deram uma quebra no meio da apresentação, mas, mesmo assim, foram cantadas em coro pelos fãs, que se não eram muitos naquele horário, aproveitavam o privilégio de poder pular e dançar sem esbarrar em ninguém. No final, a apresentação retomou a força com “Papapa” e uma versão pesadíssima de “Deixe-se Acreditar”. Após o show, o vocalista andou um pouco pelo Playcenter, mas logo foi embora, afinal, logo mais o Del Rey (projeto do Mombojó + China com músicas do Roberto Carlos) teria um de seus concorridos shows em São Paulo. O Planeta Terra começou bem.


Novos Paulistas


Tulipa Tuiz, Tatá Aeroplano, Thiago Petit, Tiê e Dudu Tsuda formam o projeto Novos Paulistas. Quando começaram a tocar, o número de pessoas já era bem maior, ou como disse Tulipa: “as cabecinhas estão aumentando!”. Os 5 integrantes são talentosos, mas o projeto em si ainda carece de mais corpo, pelo menos para encarar festivais desse porte, talvez em um teatro ou em outro ambiente mais intimista as sutilezas das composições possam ser apreciadas de melhor forma. 

Como no futebol, quando um time não convence no esquema tático, resta apostar nos talentos individuais, e foi o que aconteceu. Com Tulipa (muito aplaudida) em “Efêmera” e Tatá Aeroplano em “Cama”, o show teve seus melhores momentos, além de “Mapa-mundi” de Thiago Petit, que ganhou peso ao vivo e “Pedrinho” de Tulipa, já no fim do show. Nas músicas da Tiê (com uma doçura provocante, trajando apenas uma camisetona da Tina Turner) o bocejo era quase incontrolável, como um vírus se espalhando ao redor. Até as serpentinas que atiravam sobre o público pareciam desajeitadas. Sobre maldades alheias, ouvi alguém dizer sobre Thiago Petit: “cada um tem o Beirut que merece”. De toda forma, Novos Paulistas é um projeto para se acompanhar de perto.


Holger


O Holger não vi inteiro, mas me arrependi, o clima era bom. “Beaver” foi insana, estava filmando, mas tive que parar para dançar, ou seja lá o que fosse aquilo que eu fazia. A zorra no palco foi a esperada. Roadies tiveram trabalho com pedestais desmontando, bateria saindo do lugar, fora o banho de cerveja que os integrantes deram neles mesmos e nos instrumentos. A satisfação deles em tocar no festival era nítida e contribuiu para que o show não virasse uma grande piada interna, como alguns temiam.


Of Montreal



Confesso que conhecia pouquíssimo o Of Montreal, apenas o disco mais recente, False Priest (2010) e o Hissing Fauna, Are You The Destroyer (2007), e ainda de forma superficial. Essa é para quem adora rótulos: o show foi um circo-de-solei-dos-horrores-indie-funk. Diversos personagens esquisitíssimos fantasiados tomavam conta do palco em vários momentos da apresentação, um até voou nos braços da galera. 

Kevin Barnes, vocal e cabeça do grupo é um bom frontman ou front-sei-lá-oque. Canta bem, segura as pontas na guitarra e é performático até o limite (muitas vezes além) do ridículo. Ao menos para mim, o show funcionou bem, saí com vontade de ouvir melhor o som deles.


Mika


Outro que eu também não conhecia muita coisa, apenas os hits, que já achava bem interessantes. Logo de início já mandou “Relax (Take It Easy)”. O público do libanês era facilmente identificável, visual extravagante e comportamento afetado, é claro que isso é uma generalização, mas que parecia uma tropa uniformizada de forma escandalosa, ah parecia... 

Fiquei surpreso com o enorme número de pessoas que cantava todas as músicas com letras decoradas, não sabia que ele era tão bombado assim. Detalhe, cruzei com Leandra Leal e Mariana Ximenes fritando de dançar no inicio do show, dei uma trombada que quase derrubei a Leandra, sorry Lê. 

O show é de primeira, o cara é um showman (man?!) nato, daqueles que correm, fazem pose, sobem no piano, interagem com todos os integrantes da banda e tudo o mais. Além de cantar muito, mas muito mesmo, tanto no gogó quanto nos falsetes, nítidos e potentes. Em dado momento, quando dançarinos fantasiados entraram no palco, a amiga Karina (que foi uma ótima companhia em todo o festival) brincou que seriam os mesmos do Of Montreal. Na hora já pensei em Mika e Kevin Barnes fazendo uma seletiva juntos e combinando de levar os mesmos para baratear o custo, cena interessante! 

O final, com “Grace Kelly”, “We Are Golden” e “Lollipop” foi matador, ou melhor, foi super, ou mara, para combinar melhor com o clima. Em “Lollipop”, com todos os integrantes tocando tambores no início, alguém gritou, “vai lá, timbalada”. No final, ficou a certeza de que, as músicas são boas, não ótimas, mas o show é excelente, se os discos vierem mais inspirados daqui pra frente, Mika tem tudo para ser uma megaestrela pop. 


Phoenix


O primeiro show com atraso do festival, 15 minutos. Foi um pouco surpreendente para mim, ver a comoção de muitas pessoas com a proximidade do início do show. Logo de cara, “Lisztomania”, o grande hit da banda, cantada a plenos pulmões. E logo na segunda música, a ótima “Lasso”, o vocalista Thomas Mars já desce do palco, sobe na grade e cola na galera.

“Long Distance Call”, do disco anterior, It’s Never Been Like That (2006), fez bonito, considerando que toda a excitação em torno do Phoenix, ou boa parte dela, é por conta do Wolfgang Amadeus Phoenix (2009), seu disco mais recente. Em seguida, “Fences”, “Girlfriend” e “Armistice” seguraram bem a onda. A iluminação do palco era hipnotizante em alguns momentos e frenética em outros, e quase todas as músicas ganharam finais encorpados, cheios de camadas sonoras. A banda é bem animada no palco, tanto os integrantes fixos, quanto o baterista e o percussionista. 

Até que chega “Love Like a Sunset part I e II”, bonita em estúdio e só. Dá um banho de água fria no show, que vinha empolgante. A jam interminável ainda teve Mars deitado na caixa de retorno com os olhos fechados, pura pose. Esse momento como um todo deveria ser arrancado da memória de quem viu o show. O pique ficou comprometido depois disso, ainda mais com as músicas seguinte, boas, mas não o suficiente para levantar o pessoal do coma. A

Então, eis que surge a salvadora “1901” em versão arrasadora, com um final catártico em que Thomas Mars foi carregado pelo público até uma torre no meio da galera, nesse momento só se via o cabo vermelho neon do microfone, depois, voltou ao palco e terminou a música. Bem bonito e marcante. Ah e a participação do Daft Punk era só boato mesmo.


Pavement


Mexendo fortemente com a nostalgia anos 90, o Pavement já entrou destruindo corações com “Gold Soundz”. O detalhe é que antes do início de cada show rolava uma vinheta dos patrocinadores nos telões, a banda entrou antes do vídeo terminar, o que gerou alguns segundos de constrangimento já que o Pavement estava posicionado e não podia começar a tocar, mas tudo bem Planeta Terra, sem maiores ressentimentos. 

O ar desinteressado de Stephen Malkmus não é novidade para ninguém, ou seja, ninguém esperava o cabeça do grupo todo saltitante e risonho. A típica atitude (ou a falta dela), entretanto, aliada ao som embolado e com instrumental cobrindo a voz em alguns momentos (inclusive os gritos do percussionista Bob Nastanovich) comprometeu um pouco a apresentação. 

Por outro lado, um show que inicia com “Gold Soundz”, termina com “Here” e passa por uma penca de pérolas como “Cut Your Hair”, “Stop Breathing”, “Range Life” e outras, já começa com o jogo ganho. Resumindo: ao que parece, o show do Pavement é sempre ruim, mas é sempre bom, simples assim.


MINHA RESENHA SOBRE O SHOW DO SMASHING PUMPKINS, AQUI