terça-feira, 22 de maio de 2012

Céu na Virada Cultural Paulista


O termo excludente, pretensioso e, por vezes, preconceituoso, “para poucos”, parece se encaixar bem a Céu. Do primeiro disco, “CéU”, com o certificado “emepebístico de coolzice” ao dub/reggae de “Vagarosa” até seu trabalho mais recente, “Caravana Sereia Bloom”, que vai do rock Roberto/Caetano “Falta De Ar” à sensualidade hipnótica de “Chegar Em Mim”, Céu parece sedimentar seu público com a sofisticação do seu som e, em alguns momentos, resvala no popular com trilhas de novela etc. E é aí que seu público pode abranger desde fãs de Tulipa Ruiz e Nina Becker até admiradores de Vanessa Da Mata e, por que não,  Maria Gadú.

O show segue essa mesma linha. Na Virada Cultural Paulista, em São José do Rio Preto, a apresentação começou pontualmente a meia noite, com “Teju Na Estrada” antecedendo a entrada da cantora e, enfim, “Falta De Ar”, seguida de “Asfalto E Sal”.

Logo nas primeiras músicas, Céu diz que está tudo muito bonito, mas lamenta pela barreira que deixa o público distante do palco. No entanto, em “Contravento”, música providencialmente mais intensa, e depois de alguma negociação, a grade é retirada pela produção e o público fica literalmente na beira do palco. “agora o show começou” disse Céu, nitidamente empolgada com a nova situação.


O som, muito bem equalizado, é encorpado, mesmo com uma banda enxuta: baixo, guitarra, bateria e scratches. No palco a cantora é contida, por vezes, blasé, mas a alegria em ver sua música cantada por algumas pessoas, que seja, teima em aparecer, dando uma espontaneidade tímida, desajeitada e, por isso mesmo, comovente à apresentação.

O show aconteceu no palco montado na represa de São José Do Rio Preto. O visual era muito bonito, com um chafariz cercado de luzes coloridas ao lado do palco. Mas apesar da beleza da noite, a atmosfera hippie estradeira da apresentação cairia perfeitamente em um fim de tarde, com o “aditivo” correto.

O repertório do show é composto principalmente pelas músicas do disco mais recente da cantora: “Caravana Sereia Bloom”. Do aclamado segundo disco, “Vagarosa”, foram incluídas apenas duas músicas: “Cangote” - com uma roupagem diferente, saindo do reggae e se aproximando do baião -  e “Grains De Beaute”, com um final empolgante.

“Malemolência” e “Rainha”, do primeiro disco, fizeram bonito no setlist, a primeira com uma citação de “Mora Na Filosofia”, de Caetano Veloso, no final. Duas covers frequentemente presentes no repertório dela também chamaram atenção, a latina “Piel Canela” de Eydie Gormey y Trio Los Panchos e, principalmente, “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos, que arrancou muitos aplausos do público.


A beleza displicente de Céu chega ao nível máximo de sensualidade em “Chegar Em Mim”, a última do disco mais recente e uma das melhores músicas de 2012. Ao vivo, se o ritmo levemente acelerado minimiza parte do encanto, o refrão surge ainda mais pungente. No bis, ainda teve “10 Contados”, do primeiro disco e trilha de novela global.

No decorrer do show muitas pessoas abandonaram o local. Possivelmente por achar a apresentação arrastada ou não conhecer as músicas. Talvez o público heterogêneo da Virada Cultural Paulista ainda não esteja preparado para a música da Céu. Mas com uma performance coerente, corajosa e sem concessões, a cantora mirou exatamente a beira do palco, aqueles que se entregaram às nuances do show. Entre os demais, novos fãs devem ter surgido, mas os que já conheciam e gostavam saíram da represa mais do que satisfeitos...  apaixonados!