terça-feira, 17 de maio de 2011

Virada Cultural 2011 em Araçatuba, minhas impressões

She’s Lost Control, Canastra e Zeca Baleiro


Minha saga começou com o espetáculo de dança She’s Lost Control, da Cia. Vitrola Quântica. Conforme citei na postagem anterior, meu interesse na apresentação foi a inspiração em Joy Division, já que não tenho grandes afinidades com a dança (em vários sentidos), mas devo dizer que saí do teatro bastante impressionado.


O espetáculo começa com as três atrizes/dançarinas/bailarinas formando uma banda, mesmo, no palco. Baixo, guitarra e bateria fazem cerca de 5 minutos de pós-punk, e só então os movimentos epiléticos começam.

A atmosfera é tensa do início ao fim, com as três (bem bonitas, por sinal) se cruzando em manobras perigosas e descontroladamente perfeitas. Na trilha não toca efetivamente a música título, mas algumas citações assombrosas surgem inesperadamente.

No momento mais tenso, o som se assemelha a algum daqueles pesadelos em que corremos de algo indefinido, mas as pernas não obedecem e não nos tiram do lugar. Uma das garotas começa bater violentamente uma espécie de taco de hockey no chão e em determinado momento as três reiniciam os movimentos descontrolados, mas dessa vez arremessando o bastão uma para a outra. Qualquer erro, que felizmente não aconteceu, traria grandes problemas.

Pelo que pude observar não houve nenhuma baixa no público durante a apresentação. A hipnose coletiva foi bem sucedida. Saí do local bastante perturbado e imaginando como King Night, do Salem, se encaixaria muito bem na trilha atormentada, do espetáculo e da minha cabeça naquele momento.


Quando cheguei na praça Getúlio Vargas, o show do Swing Snake Blues já havia começado. O que posso dizer é que o clima era bom e a banda estava afiada. Um amigo disse que exageraram um pouco nas jam sessions, concordei, ao menos nas poucas músicas que pude acompanhar.


Sem atrasos o Canastra começou sua zorra em cima do palco. Logo de cara já mandaram “Chega de Falsas Promessas”, “Chevete Vermelho” e “Motivo de Chacota”. Nesse momento o público se dividiu. Metade estava ganho. A outra metade reclamava da voz anasalada de Renato Martins, mas ainda assim dançava.

O som saía muito bem definido das caixas e os metais deram um show a parte. Foi divertido, mas fico imaginando como seria insano um show deles em um ambiente fechado e para um público mais específico, no Pub Rock Beer por exemplo. Fica a dica.


Eis que se inicia o show mais esperado da noite, e talvez de toda a Virada: Zeca Baleiro. Devo confessar que a partir daí minhas impressões são um pouco nebulosas, resultado de uma mistura inusitada de (muita) cerveja, licor Amaretto (culpa do Douglas) e de um estômago tão vazio que quase corria uma bola de feno.

Zeca preferiu não arriscar e apostou em um repertório recheado de hits de sua carreira, o que já era previsível e aceitável em vista do público diversificado de uma Virada Cultural.

Estava tudo lá: “Telegrama”, “Lenha”, “Proibida Pra Mim” (urrrgh), “Babylon”, “Bandeira”, “Heavy Metal do Senhor” e tantas outras. O problema foi que, não faço idéia do motivo, o som, que soava tão cristalino no Canastra, estava um pouco embolado. Quando ficava no violão e voz, melhorava. Mas quando entrava a banda toda, tudo se misturava. Deixo claro que pessoas sóbrias concordaram comigo nesse aspecto.

De toda forma, o público pareceu bastante satisfeito. Como postei anteriormente, não sou grande entusiasta do Zeca Baleiro. Apostava no show, mas devido às circunstâncias, me mantenho da forma que estava antes da Virada, ainda no benefício da dúvida.

O Anderson fez um vídeo caprichado do show, um resumão de 30 minutos, confira abaixo. No blog dele também tem vídeos do Canastra e da Fafá de Belém.






Tulipa Ruiz


No domingo me programei apenas para a apresentação da Tulipa Ruiz. O show que mais esperei na virada. E minhas expectativas, que eram bem altas, foram superadas com louvor.

O público, como já esperava, não foi muito numeroso. Houve atraso de uns 25 minutos, mas sem grandes irritações, o clima era bem pacífico, parecendo até que introduzia a primeira música do show, a suave “Efêmera”. Após a banda toda entrar no palco e começar os primeiros acordes da música, Tulipa entrou e foi logo saudar o público.

Quando começou a cantar, o arrepio foi inevitável. Sua voz preenchia o silêncio do imponente teatro com uma delicadeza hipnótica. A banda, competentíssima, fazia sua parte, mas o público parecia não conseguir desgrudar os olhos da simpática vocalista.

A performance de Tulipa encanta por uma série de fatores. O primeiro, óbvio, a voz. Hora suave, hora firme e poderosa. Em alguns momentos romântica, em outros totalmente destrambelhada. O lado teatral da cantora é aplicado na medida, chama atenção, mas não soa forçado. E, por fim, a simpatia. O sorriso que parece não conseguir sair do rosto. Teve jogo de cintura para contar histórias enquanto trocavam seu microfone, no início do show, e para convidar todos a levantarem das cadeiras quando cantou “Brocal Dourado”.

“Pontual” mostrou a faceta mais pop do show, enquanto “Pedrinho” ganhou peso (vídeo abaixo). “Do Amor” foi um dos grandes momentos, bonita de chorar. A voz, na parte final, em que faz vocalizações em falsete, conduziu um final irretocável. A única música de Efêmera, seu primeiro e único disco, que não foi tocada foi “Sushi”. E ainda tiveram versões destruidoras de “Cada Voz” e a cover de Caetano Veloso, “Da Maior Importância”. O final, com “A Ordem Das Árvores”, foi o culpado por todos saírem do teatro cantarolando “Uhuu-Uhuu”.

Uma pena que o teatro não estivesse lotado, longe disso. Tulipa Ruiz faz o tipo de som que faria muito sucesso, se o mundo fosse justo. Mas a carreira da moça está apenas começando, espero ainda vê-la aqui mesmo, em Araçatuba, em um show lotado e com a carreira ainda mais bem-sucedida. De toda forma, independente de público, enfim, “acontece alguma coisa nessa tarde domingo”.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Virada Cultural 2011 em Araçatuba. Minha programação

Nesse final de semana, 14 e 15 de maio, acontece a Virada Cultural Paulista 2011. Pra quem não sabe, a virada é... ah, você sabe, né?! Pois bem, todo ano traço meu roteiro do que vou (ao menos tentar) acompanhar aqui em Araçatuba. Segue abaixo a lista.



She's Lost Control – Cia. Vitrola Quântica

Horário: 20h30
Local: Teatro Municipal Paulo Alcides Jorge




“Inspirado na canção homônima da banda inglesa de pós-punk Joy Division, o espetáculo une elementos da literatura, psicanálise, música e artes plásticas para criar uma experiência diferente nos limites entre o controle e o descontrole, um jogo de tensões de corpos que se organizam e desorganizam, numa festa que nunca termina.”

Nunca gostei muito de espetáculos que envolvam dança, mas quando o tema em questão é a clássica She’s Lost Control, do Joy Division, a coisa muda um pouco de figura. Há grandes chances de não gostar, mas vale a tentativa.








Swing Snake Blues

Horário: 21h
Local: Praça Getúlio Vargas



“Original de Araçatuba, a banda de blues e southern rock incorpora em seu repertório composições de Eric Clapton, B.B.King, The Allman Brothers e outros grandes nomes. Com Lucas "Tchê" Gagliardi na voz, Fernando Antones e Iran Marcius nas guitarras, Raphael Martini no baixo e Leandro Jordison na bateria, a Swing Snake Blues revisita os clássicos desses estilos somando sua energia e tempero.”

Banda local que ainda não consegui pegar nenhum show. Tenho ouvido muitos elogios a respeito dos caras. Tudo bem que em um evento como esse o que eu queria mesmo ver é repertório autoral (não tenho certeza se o SWB tem ou toca sons próprios em shows), mas o som deles parece bom. Se bem que só verei na íntegra se realmente o She’s Lost Control não bater, do contrário pego na metade. Veremos.



Canastra

Horário: 22h30
Local: Praça Getúlio Vargas


“O grupo carioca apresenta ao vivo o repertório do CD "Chega de Falsas Promessas", que traz uma sonoridade tão diversa e inusitada que é capaz de agradar a todas as tribos, ou mesmo a quem não pertence a nenhuma delas. Canções que, de um jeito ou de outro (seja por forma ou conteúdo), têm tudo a ver com todo mundo. Porque, no fundo, todo mundo gosta mesmo é de boa música.”

Apesar dessa descrição babaca acima, o Canastra é uma banda bem bacana. Rodrigo Barba, (ex?) baterista do Los Hermanos comanda as baquetas do grupo. O som tem a ver com o Acabou La Tequila, antiga banda do vocalista e um dos nomes da maior influência no primeiro disco do próprio Los Hermanos, lembrando que Anna Júlia e Primavera eram exceções no álbum. Baseado nas músicas dos dois disco do Canastra “Traz a pessoa Amanda em 3 dias” (2004) e “Chega de falsas promessas” (2007), o show promete ser no mínimo divertido. E como o trabalho mais recente já tem 4 anos, fica a expectativa para que rolem músicas novas no show.






Zeca Baleiro

Horário: 0h
Local: Praça Getúlio Vargas


“O artista faz uma retrospectiva de sua carreira, em um show que reúne sucessos em versões contagiantes. O repertório traz criativas releituras de canções já consagradas como: Salão de Beleza, Telegrama, Você Não Liga Pra Mim, entre outras. Acompanhado de Tuco Marcondes (guitarras, violões e vocais), Fernando Nunes (baixo), Pedro Cunha (teclados e acordeom) e Kuki Stolarski (bateria e percussão).”

Provavelmente é a atração mais aguardada da Virada (ele e a Fafá de Belém). Confesso que não sou grande entusiasta do Zeca Baleiro, lembro de uma ou outra música que acho realmente boa, mas já ouvi falar muito bem de shows dele.








Obs1: 0h30, no teatro da UNIP, tem show de um cover do Queen chamado Bohemian Queen, mas vai ficar pra próxima.

Obs2: 2h30 tem um stand-up comedy do Renato Tortorelli no teatro da UNIP. Vi algumas coisas dele no youtube e achei absolutamente sem graça. Então, só vou se for embalado no fluxo.


Tulipa Ruiz

Horário: 15h
Local: Teatro da UNIP


“Sucesso de público e crítica, o disco de estreia de Tulipa foi considerado um dos melhores do ano pela revista Rolling Stone e um dos melhores da década pela Folha de S. Paulo. O repertório do show é formado pelas canções da cantora e a banda que a acompanha traz importantes instrumentistas da MPB, como Duani Martins, Marcio Arantes, Gustavo Ruiz e Luiz Chagas.”

Conforme postei aqui, Tulipa Ruiz é a responsável pelo melhor disco nacional de 2010, “Efêmera”, o show dela é a atração que aguardo mais ansiosamente na Virada. Pude vê-la de perto no Planeta Terra Festival, ano passado, mas o show não era dela, era do coletivo Novos Paulistas, do qual ela faz parte e protagonizou os melhores momentos da apresentação. Fico um pouco receoso de shows em um teatro grande como o da UNIP, o público tende a ficar mais retraído, o que, de certa forma, contribui com um caráter mais contemplativo, mas coloca em risco momentos mais “pra cima” do repertório. A pouca projeção comercial (especialmente no interior) de Tulipa e o horário do show podem fazer com o público não seja muito numeroso, o que seria uma pena enorme. A única coisa que digo é que, quem perder esse show vai deixar de ver em plena ascensão um dos talentos mais promissores da música brasileira atual, e isso não é pouco.









Obs3: Até faria um esforço para ver o show da Fafá de Belém, 17h na praça, mas tenho um compromisso com a TV: jogo do timão. #VaiCorinthians.

Obs4: Na próxima semana posto aqui minhas impressões gerais sobre a virada.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Wasting Light - Foo Fighters



Dave Grohl é constantemente classificado como um dos gênios de sua geração. E não é para menos. Têm no currículo as baquetas do Nirvana, e esteve em ótimos projetos, como Them Crooked Vultures, Probot, tocou (e muito) no melhor disco do Queens Of The Stone Age, entre outros.

Mas a verdade é que, no Foo Fighters, sua principal ocupação, estava devendo um bom disco desde o One By One (2002). In Your Honor (2005) apesar de ter a incrível “Best Of You”, é um disco confuso e bastante irregular. E Echoes, Silence, Patience And Grace (2007) é sem dúvida o ponto mais baixo da discografia do grupo.

No entanto, enfim, Grohl arregaçou as mangas, cercou-se de referências certeiras e nos deu um belo disco, Wasting Light. No album, a banda usa sua melhor arma, canções com peso e vigor, mas totalmente palatáveis e com refrões descaradamente pop e assobiáveis.

É nítida a influência de trabalhos anteriores de Grohl, como QOTSA, Them Crooked Vultures e do próprio Nirvana. O revival grunge é acentuado pela produção de Butch Vig, responsável pelo lendário Nevermind, participação de Krist Novoselic em uma faixa (“I Should Have Known”) e a volta de Pat Smear à banda. Sim, agora são três guitarras.

Não há nada de realmente novo no disco, o que hoje em dia pode ser um problema. Por outro lado, a banda se alinha (mesmo que inconsciente) a uma espécie de retomada do grunge, que compreende a volta de nomes como Alice In Chains, Soundgarden e Stone Temple Pilots, e ainda uma nova geração que bebe nessa mesma fonte (Cage The Elephant, Yuck, Dinosaur Pile-Up).

Wasting Light já é o sétimo disco de inéditas do Foo Fighters, ou seja, a banda não é mais nenhuma promessa. Com isso, se continuar lançando discos como esse, mesmo que sem “olhar pra frente”, ninguém deve reclamar, vide ACDC, Motorhead e outros... a música continua.