Você já sabe de todo aquele papo sobre a
relação da geração atual com as músicas do Raça Negra, já cansou de ouvir que o
som deles "faz parte da memória afetiva e tocava nos churrascos de domingo da familia". De
toda forma é inevitável notar que nos últimos meses o nome do grupo tem sido
alardeado com mais força pela internet (ao menos no meu círculo de contatos), o
que mostrou pra muita gente que a qualidade das canções vai muito além da
nostalgia familiar noventista.
Em meio a tudo isso, dois fatos colocaram o
Raça Negra de forma mais efetiva no meu caminho novamente depois do sucesso que
fizeram nos anos 90. O primeiro motivo: o camarada Jorge Wagner, depois de
muito planejar, colocou em prática, junto com o site Fita Bruta, o projeto
Jeito Felindie. Que é, como o nome sugere, um tributo de bandas indie ao Raça
Negra. Lançado oficialmente sexta passada (12/10) para audição e download, o
trabalho conta com doze versões feitas por bandas dos mais variados perfis.
O outro acontecimento que me trouxe o grupo
de Luís Carlos (sim, o da língua prefffa) a tona, foi o show deles na minha
cidade, Araçatuba. Preço honesto, data propícia, namorada interessada e ao
menos um amigo disposto a encarar junto comigo. Não dava pra perder. Combinei,
comprei os ingressos e fui.
A primeira música da apresentação foi a simbólica
“Cheia de Manias” (ou “a do dididididiê”). Daí em diante você já pode imaginar
a avalanche de hits... mas sobre o show em geral, algumas coisas devem ser
destacadas: Luiz Carlos já está com a voz bastante desgastada e durante a
execução do repertório se apoiou no coro ou “na galera” em vários momentos; o
filho dele subir no palco e cantar umas SETE músicas foi extremamente
desnecessário; no meio de tantos sucessos, tocar covers de músicas famosas,
incluindo “Não Quero Dinheiro” DUAS vezes, também foi pra lá de dispensável.
Mas parece que ninguém se importou com isso.
A quantidade de hits e a forma como eles são
cantados e celebrados falava por si só. Poucas vezes vi tanta devoção a um
artista no palco. Logo na minha frente estavam dois rapazes, irmãos gêmeos, um
deles com a namorada e ainda uma terceira irmã com o namorado. A emoção dos
dois irmãos era uma coisa tão contagiante que não tinha como não acompanhar
todos os movimentos. A cada música que começava eles pulavam, se abraçavam,
acenavam para o alto e cantavam... muito, cada palavra de cada letra de cada
música. De vez em quando viravam para as outras pessoas que estavam com eles e
diziam coisas como “essa música é do disco tal, tocava em tal lugar, lembra?”.
A irmã e a namorada estavam seriamente preocupadas, temendo que eles pudessem
passar mal de tanta emoção.
Eles não eram os únicos, todas as músicas
ganharam um coro potente e emocionado ao vivo. É difícil destacar um momento
específico de destaque na apresentação, mas “Jeito Felino” e “Poderosa” foram
bastante celebradas e encerraram um show longo e intenso.
![]() |
"ffe não tiver voffe, o meu coraffão chora" |
É possível que os gêmeos emocionados nunca tenham ouvido falar de Giancarlo Rufatto, ou que poderiam não curtir a melodia desconstruída na versão folk de “Maravilha”. Talvez pudessem achar que o Nevilton tocando “Vida Cigana” tenha ficado muito pauleira, ou que “Jeito Felino” e “É Tarde Demais” teriam ficado esquisitas por demais nas versões de Letuce e Harmada. Por outro lado, poderiam se encantar com a voz doce da Vivian Benford em “Cheia de Manias”, ou aprovar o acento pop que “Quando Te Encontrei” ganhou na versão do Amplexos. Quem sabe...
No final das contas tudo isso é muito
relativo, o que sobra é que tanto eu quanto você, o Jorge Wagner, o pessoal do
Fita Bruta, os gêmeos, os indies e os pagodeiros gostamos de boas músicas, e
todos podemos concordar que o Raça Negra já fez muitas e elas estão aí, de
várias formas, na turnê revival que passou por Araçatuba e no Jeito Felindie, na
dúvida não escolha, viva com todas.
![]() |
Indididididiê |