quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Como uma pedra que rola


Foto: Daniel Kramer, 1965

Não sou muito adepto do blog como "Meu querido diário, hoje acordei triste e bla bla bla...", mas por hoje abro uma excessão. Me aproprio da justificativa (leia-se desculpa esfarrapada) que por mais que seja um "causo" pessoal, tem música envolvida na história.


Bom, vamos lá... faço parte de uma banda com o repertório baseado em covers dos anos 50, 60, 70 e 80, sou baixista e eventual vocalista. Minha maior vontade é ter um projeto com composições próprias, mas enquanto isso não é possível gosto e me divirto bastante com a banda da qual faço parte, a propósito o nome é Vinill.


Como disse sou eventual vocalista, só canto musicas mais adequadas a meu tipo de voz (grave), o que compõe uma pequena parte do repertório, mas nunca escolho o que cantar, as coisas seguem bem esse padrão que citei, o do tipo da voz adequada.


Apenas uma vez, selecionando músicas para o repertório, me prontifiquei e interrompi a música dizendo: "essa eu quero cantar heim!", era "Like a Rolling Stone". Essa música sempre representou muito para mim, não sei exatamente porque, mas como ninguém da banda contestou ficou decidido.


Nunca conseguimos apresentar essa canção em nossos pequenos shows, uma vez porque não tinha ficado legal no ensaio, outra porque eu não conseguia decorar toda a letra e assim por diante.


No último domingo ensaiamos alguma músicas que estavam meio esquecidas no repertório, e entre elas estava o clássico de Bob Dylan. O problema é que venho passando por umas complicações na garganta, inclusive já havíamos combinado que não passaríamos as músicas que eu cantava, tentamos uma ou outra, mas logo no começo já era interrompida por um acesso de tosse. Mas "Like a Rolling Stone" é especial, e há tempos nem ensaiávamos ela, então, depois de alguma insistência (bem pouca na verdade), resolvi tentar.


E a música seguia, os versos saiam com o sofrimento de quem tem uma arma apontada pra cabeça, mas seguia. Cada "How does it feels" parecia que eu dizia a mim mesmo, mas os versos iam seguindo, e nossa sala de ensaio estava recheada de sorrisos, na verdade talvez nem estivesse, mas era o que eu sentia. Poderia romantizar mais a história dizendo que nunca havia cantado essa música tão bem, mas não seria verdade, alguns deslizes foram inevitáveis, mas nada muito prejudicial. Quando foi executado o dó maior final da música parecia que meus pés estavam voltando ao chão, minha satisfação era nítida. Obviamente não cantei mais nada nesse dia, mas já estava satisfeito.


Engraçado isso acontecer em uma época que estou ouvido incansavelmente o Blonde on Blonde, e quase as vésperas das apresentações de Dylan no Brasil. Infelizmente não vou poder conferir os shows, mas fico aqui na certeza que serão memoráveis, e fico também com a lembrança de quando Dylan me curou, pelo menos durante os quase 6 minutos da grande "Like a Rolling Stone"

Um comentário:

Diego Assunção disse...

Dylan é foda. Depois de rever "Alta Fidelidade" eu fiquei bons dias só ouvindo "Most of the Time".

Sobre o show dele no Brasil, nos resta a esperança de alguém botar algum vídeo no Youtube - mesmo com aquela qualidade de vídeo de celular e aquele áudio estourando.

Ah, e melhoras aí, bicho.