sábado, 5 de julho de 2008

Revirando o Baú

Esse texto foi escrito em 21/10/2006 e publicado no meu antigo blog. Estava ouvindo essa semana o álbum solo do Roddy Woomble, vocalista do Idlewild, e me deu vontade de publicar novamente o texto, aí está.



Será que é preciso inovar?



Frequentemente vemos o surgimento de bandas tidas como promessa, é quando escutamos aos montes classificações como “A Salvação do Rock” ou “O Novo Nirvana”. É inegável que muitos desses grupos são realmente muito bons, e boa parte deles consegue visibilidade devido a algum diferencial em seu som, mesmo que esse diferencial seja ser retrô. Mas às vezes nos esquecemos que além de todo esse fenômeno “Hype”, existem bandas que, se não trazem nenhuma inovação, fazem um rock sincero e competente.

Um desses grupos que cativam pela falta de ambição é o Idlewild. A banda teve também sua fase de “Next Big Thing”, mas alguns anos atrás essa característica não tinha a mesma efervescência que tem hoje, talvez por isso eles estejam um pouco esquecidos atualmente, principalmente no Brasil.

Surgido no ano de 1995 em Edimburgo, Escócia, o grupo teve em sua primeira formação Roddy Woomble: Vocal, Rod Jones: Guitarra, Bob Fairfoull: Baixo, e Colin Newton: Bateria. Em 2002 Fairfoull foi substituído por Gavin Fox, e ainda Allan Stewart foi adicionado nas guitarras. Em 1998 é lançado o EP Captain contendo seis músicas, entre elas as furiosas “Captain” e Self Healer”, com uma voracidade quase punk, além da dissonante “You Just Have To Be Who You Are”. E nessa mesma linha é lançado ainda em 1998 o primeiro álbum, Hope is Important.

A sonoridade se aproxima em alguns momentos até do hardcore, mas sem abrir mão dos ecos pop, daqueles que parecem nos dizer que muita coisa boa vem por aí. É interessante notar a diversidade (sem perder a identidade) que se vê no álbum colocando lado a lado pérolas pop como “Whem I Argue I See Shapes” e canções tensas como “Low Light”, em que a frase “Turn the lights down when you cry” é repetida por quase toda a música (sem parecer emo, é bom lembrar).

Em 2000 é lançado o álbum 100 Broken Windows. Considerado por boa parte da crítica o melhor trabalho da banda. As influências do punk rock são trocadas por altas doses de R.E.M., mas ainda assim mesclando com maestria distorção e boas melodias. Seja na beleza de “These Wooden Ideas” ou no peso de “Idea Track” se destaca no disco a poesia das letras de Roddy Woomble. Nessa época os escoceses excursionaram com Placebo e Manic Street Preachers.

O álbum seguinte seria a prova definitiva para a banda firmar seu nome no mercado e na crítica. The Remote Part de 2002, entretanto, dividiu opiniões, muitos disseram ser o reflexo do amadurecimento do grupo, outros acusaram o caráter mais “suave” das músicas de ser uma estratégia para melhores vendagens, e ainda alguns definiram o álbum como “Emocore para as massas” (!!).

No disco, podemos ver realmente canções mais brandas, mas também petardos como “The Modern Way of Letting Go” e “Out of Routine”. O amadurecimento é nítido em canções como “You Held The World in Your Arms” que equilibra peso, melodia, violinos e uma das melhores letras de Woomble: “When you're secure do you feel much safer? When days never change and it's three years later, It's like your life, hasn't changed and it's three years late, How does it feel to be three years late and watching your youth drift away?”. Ou ainda na música “American English”, considerada por muitos uma das melhores canções do ano. Comercialmente também foi o melhor momento dos escoceses.

Outra composição que merece ser destacada é a faixa que fecha o álbum, “In Remote Part/Scottish Fiction”. Canção suave com uma bela melodia, quando parece que vai chegar ao final é cortada por uma rajada de guitarras, formando o pano de fundo para o poeta escocês de 82 anos, Edwin Morgan, recitar seu poema “Scottish Fiction”, arrepiante.

Em 2005 é lançado Warnings/Promisses. Foi considerado por muitos uma decepção na carreira do Idlewild. O álbum apresenta boas canções como “Love Steals Us From Loneliness” e “El Captain”, mas mantem a mesma linha do trabalho anterior, talvez essa fosse a hora da banda arriscar um diferencial (aquele citado no início do texto) para seu som.

Paralelo a carreira do grupo, Roddy Woomble lança em 2006 seu primeiro trabalho solo, “My Secret is my Silence”. Woomble surpreende com um álbum de uma delicadeza incrível, se aproxima do folk e de músicas escocesas, nos presenteando com belas canções e novamente ótimas letras, que são ainda mais valorizadas nos duetos de Roddy com as cantoras folk Kate Rusby e Karine Polwart.

Mantendo a periodicidade de álbuns a cada dois anos, em 2007 será lançado Make Another World, marcando a volta do produtor Dave Eringa, que havia trabalhado com o grupo em 100 Broken Windows e Remote Part. Vamos esperar então que em meio a tantas “incríveis descobertas”, o Idlewild volte dando continuidade (com ou sem diferencial) a sua trajetória marcada pela simplicidade que nos leva ao questionamento do porque essas músicas nos cativam tanto.

Um comentário:

Diego Assunção disse...

Cara, "Senhores do Crime" era o filme que queria lembrar pra te falar: mais sóbrio, e contraditoriamente sombrio, do que "Marcas da Violência".

Mortensen neste filme é como se tivesse incorporado Ed Harris no anterior. Bem, uma personalidade meio Charles Bronson, um individuo taciturno e tal.

O engraçado é que no primeiro havia a estrutura do caos surgindo de uma trama familiar e tal, agora há algo de filme romântico que torna a coisa toda muito estranha.

Em uma palavra: foda.

Mais uma coisa: atualiza essa bodega, pô.