segunda-feira, 18 de julho de 2011

2011: o incrível ano em que o rock nacional sumiu


Texto originalmente publicado no Portal Iradio

Os anos 90 e 00 tiveram uma característica em comum no cenário rock mundial, ambas as décadas começaram com uma espécie de “movimento”, constituído de bandas não muito semelhantes entre si, mas que acabavam entrando, por um motivo ou por outro, no mesmo caldeirão. E com o decorrer dos anos os rótulos iam se desintegrando até que tudo se bagunçava para o início da década seguinte. 




Talvez movimento não seja a palavra, trata-se na verdade de um subgênero dentro do rock, esse foi o caso do grunge nos anos 90, com Nirvana, Pearl Jam, Alice In Chains, Soundgarden etc. Nos anos 00 esse agrupamento não teve um rótulo forte (forte?!) como o grunge, mas Strokes, Franz Ferdinand, Kings Of Leon, The Killers, Bloc Party entre outros eram frequentemente chamados de bandas do “Novo Rock”.

É claro que essa é uma análise simplista, pois a década de 90, por exemplo, não se resumiu às bandas grunge. O estouro do Nirvana trouxe consigo vários grupos de rock alternativo, que antes não tinham a menor visibilidade. Em meio a tudo isso teve o Radiohead, que começou sutil, mas tomou proporções enormes. E antes da fase Kid-A, arrebanhou dezenas de bandas com sonoridade similar. Isso tudo sem falar no Britpop. 

No Brasil, o tempo do rock segue de maneira mais descompassada, o grunge não pegou por aqui, o novo rock iniciado em 2001 com o Strokes também não. Ao invés disso, nesses 20 anos (90/00) tivemos, inicialmente, os medalhões do rock nacional, advindos dos anos 80, como Paralamas do Sucesso, Ira!, Ultraje a Rigor, Capital Inicial. O Mangue Beat de Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A. que apesar da grande importância para a música, nunca obteve maiores resultados comerciais. Bandas assumidamente pop e com apelo comercial forte (Skank, Jota Quest), e aberrações comercialmente bem sucedidas como Charlie Brown Jr., Detonautas e Tihuana. Ainda tivemos Raimundos, Planet Hemp e Mamonas Assassinas. 


Com a crise do mercado fonográfico, uso da internet como plataforma efetiva de divulgação, e ainda com a relativa facilidade atual de se conseguir gravar músicas em estúdio (ou home studio) com resultados satisfatórios, as bandas independentes brasileiras conseguiram maior visibilidade e seguem produzindo o que há de melhor atualmente no rock nacional. Importante citar o Los Hermanos, que com o segundo disco, Bloco Do Eu Sozinho (2001), mostrou para muitas bandas do underground que era possível fazer o som que desejavam, cantado em português. 

No mainstream do rock (ou pop rock) brazuca, o CPM 22 “plantou” o NX Zero que originou o Restart. Depois do sucesso do emocore, com o já citado NX Zero e o Fresno, quem dá as cartas agora é o Happy Rock, ou os coloridos como Restart, Cine e Hori (que já acabou para Fiuk seguir carreira solo). A banda colorida mais bem sucedida comercialmente é o Restart, que apesar de vender bem, tem o público composto essencialmente por adolescentes e crianças, a ponto de até o consumidor médio de música no Brasil (que ouve Ivete Sangalo, Luan Santana, Vítor e Léo, Jota Quest…) ter preconceito com o som deles. Resumindo: hoje não existem bandas de pop rock nacional adultas que sejam realmente sucesso. 

Apenas para ilustrar. Aqui em Araçatuba/SP, de onde esta coluna é escrita, 490km da capital, vai chegando ao fim a Expô Araçatuba, exposição agropecuária que conta com 10 dias de shows. Obviamente duplas sertanejas predominam na programação, é compreensível. Mas como o público é diverso, a grade de shows se presta a diversidade também, sobrando espaço até para bandas de rock, ou quase isso. Em 2006 tocaram Barão Vermelho, CPM 22 e Pitty. Em 2007, Jota Quest, Capital Inicial. 2008, NX Zero. 2009, Jota Quest, Capital Inicial e, vá lá, Roupa Nova. 2010, Roupa Nova e Hori. Agora em 2011 o representante do rock’n roll é… não há. Ok, o Oficina G3 é rock, mas acaba entrando na categoria “religiosos”. É preconceito dos organizadores com o rock’n roll? Não. Eles querem público e hoje não há uma banda de rock popular a esse ponto. 

Já passamos um semestre dessa nova década e até agora não há sinais de algo interessante no rock nacional mainstream e nem de bandas independentes conseguindo maior visibilidade. Pelo contrário, o Superguidis, banda independente gaúcha da melhor qualidade, anunciou seu fim recentemente. Ou seja, bandas que deveriam estar tocando nas rádios e fazendo a cabeça da juventude estão terminando. 

O que resta é continuar acompanhando o bom trabalho de várias bandas do underground, apoiar e torcer para que isso, no Brasil, não seja o triste fim desse negócio chamado rock’n roll.

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