sábado, 26 de novembro de 2011

A Banda Mais Bonita Da Cidade?



Se 6 meses atrás você esteve por um momento conectado a internet você sabe do que se trata A Banda Mais Bonita Da Cidade e o clipe de “Oração”. O vídeo, que nesse exato momento ultrapassa 8 milhões e 300 mil acessos, tornou em pouquíssimo tempo uma banda praticamente desconhecida em fenômeno da web. Mês passado, com a poeira devidamente baixada, o grupo curitibano lançou seu primeiro disco.

Demorei para ouvir. O impacto, em mim negativo, de “Oração”, me fez postergar a audição do trabalho. Como disse, o webhit não me agradou. Apesar do clipe ser muito bonito e bem produzido (meio chupado do Beirut, mas ok) a música é repetitiva a ponto de torrar a paciência e excessivamente “fofinha”, com toda aquela atmosfera neohippie, ou hipster, cheirando a leite com pêra.

No entanto, adoro ser surpreendido (quem não?), e fui com boa vontade (juro) ouvir o disco. “Mercadorama” abre o disco com um experimentalismo um pouco carregado, remetendo aos primeiros discos do Pato Fu. Já de cara podemos perceber que a produção é cuidadosa, tudo no seu devido lugar, o que nem sempre é bom.

“Aos Garotos De Aluguel”, do Poléxia, surge em boa versão, inferior a original, mas interessante. Por outro lado, vai ficando a impressão que muitos recursos são utilizados a todo momento: crescendos, instrumentos sumindo e voltando, mudanças de andamento... chega a parecer que é uma questão de auto-afirmação, como se fosse uma alternativa para “compensar” a fofura.

Contrariando a impressão anterior, “Boa Pessoa” é uma balada muito bonita levada no violão. Simples e com uma bela melodia. “A Balada Da Bailarina Torta” e “Oxigênio” são milimetricamente dissonantes e... tortas. A primeira flui bem, já a segunda pesa mais uma vez no excesso de informação.

“Ótima” é lenta e atormentada. Remete à métrica de músicas do Radiohead, como “Exit Music (For A Film)”. A lembrança da banda de Thom Yorke não é em vão, já que “Canção Pra Não Voltar” tem a introdução de “Let Down” dos ingleses. Não, não apenas parece, é exatamente o mesmo início da música do Radiohead. Aliás, o dedilhado é melhor que todo o resto da música dos curitibanos.

“Solitária” e “Nunca” são mais duas músicas arrastadas. Não empolgam. “Se eu Corro” é mais um exemplo de simplicidade que funciona. Boa parte da música é só com um violão, no final uma explosão para então encerrar, novamente, só com o violão.

A já citada, “Oração”, aparece com algumas mudanças, já que a versão que tornou a banda conhecida havia sido feita para o clipe, sonorizada durante a gravação. Sem o impacto visual a música perde um pouco de força, mas é interessante como ela soa bem melhor que antes quando comparada, em sua simplicidade, com algumas firulas presentes em outras canções do disco.

“Cantiga De Dar Tchau” encerra o disco. Com metade da música cantada sem acompanhamento, a bela voz de Uyara Torrente se destaca, mas a música é curta, realmente para dar tchau.  

No final, fica a impressão que A Banda Mais Bonita Da Cidade é um cruzamento, não tão bem sucedido, entre o experimentalismo agridoce do Pato Fu e a quarta-feira de cinzas que nunca termina do Los Hermanos. Tudo isso turbinado por uma melancolia torta muitas vezes descabida, quando no final das contas poderia ser simplesmente um disco bonito e sem vergonha de ser pop.


A boa resenha do disco publicada no Scream &Yell traz uma visão quase que totalmente oposta a minha, interessante ver os dois lados.

Um comentário:

Guilherme Tavares disse...

Eu já não fazia questão de ouvir esse disco. Puro preconceito meu por causa dessas músicas coxinhas. Depois dessa análise então, vai passar reto mesmo.